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Oito

quinta-feira, dezembro 25, 2014


Fechei os olhos, aconchegada nos teus braços. Senti cada um dos teus toques em meu corpo e os dedos que passeavam entre os meus cabelos. Adormeci.

Entorpecida pelo teu perfume que vagava pelo ar junto com o meu, vi que estávamos numa sala de cinema. Apenas nós. Era o nosso primeiro encontro. O filme que passava na tela era de ação -que tu amavas- e eu comia pipoca doce. Doce como os teus lábios, que em poucos minutos percorreriam minunciosamente cada centímetro da minha nuca, e me provocariam arrepios.

Coloquei meus pés na grama, e o vento fez meu vestido subir. Eu lembrava daquele parque: visitamos ele no nosso aniversário de 2 meses. Tu me olhastes com um olhar sacana, implicando comigo. Eu sorri, enaltecida pelo jeito com que conseguias me fazer sentir. Deitamo-nos um ao lado do outro, sorridentes. Uma borboleta azul voou, assim como meus pensamentos. Para longe.

Apartamento. Cama bagunçada, roupas no chão e mente vazia. 4 meses. Nós dois atirados no sofá, olhando pela terceira vez "O fabuloso destino de Amélie Poulain". E eu embriagada pelo teu perfume pela 513ª vez.

Eu olhava pela janela, com os olhos perdidos por entre os carros que passavam velozmente pela rua. Cruzei as pernas e olhei para o chão, para os teus sapatos. Com pesar, olhei para ti. Tu me olhavas com a expressão mais séria do mundo, e quase pude sentir as fuziladas em meu rosto. Amassavas o guardanapo como se quisesse sair correndo dali. O café estava meio amargo. Tuas palavras compulsivamente cuspidas pela tua boca, também. 6 meses. Estávamos no Café Paris, Porto Alegre. Que já não era tão alegre assim.

Teus olhos já não pareciam os mais sinceros do mundo. Teu abraço já não me trazia paz, e nós estávamos nos perdendo. 7 meses.

Rímel borrado, voz embargada e batom vermelho intacto. Não houveram gritos, tapas, ou pratos quebrados. Apenas um fim: tu estavas deixando de ser meu. Oito meses.

Acordei num sobressalto, e tu me olhastes com ternura. Sorri, tornando meus olhos pequeninos e levando-os de encontro aos teus. Era só mais uma noite depois dos oito. Depois de muitas, aliás. Ainda era tu, e ainda era eu. Mas agora éramos eu e você, e não nós.

Me despedi com um beijo demorado, profundo e desesperado. Tu já não sentias mais minhas frustradas tentativas de transmitir meus sentimentos através do toque de nossos lábios. Já não me olhavas como antes, teus olhares eram vazios. Já não seguravas a ponta dos meus dedos para que eu não pudesse partir. Infelizmente, já não nos cabe mais este amor.

Preferia que naquele noite tu tivesses borrado meu batom, e não o meu rímel.

Era pra sempre, mas já tinha acabado.

E eu continuava ali.

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