Breu
segunda-feira, janeiro 05, 2015
Estava
há alguns meses planejando aquela viagem. Afinal, era o primeiro dinheiro que
eu tinha economizado no auge dos meus 23 anos e eu estava prestes a embarcar
num cruzeiro por 11 dias.
O
dia estava incrivelmente lindo. Os raios de sol despontavam, convidativos, e eu
pus um vestidinho branco enquanto observava as ondas calmas do Atlântico se
exibirem pela minha janela. Prendi o cabelo em um coque, deixando algumas
mechas soltas e colori meus lábios de vermelho. Peguei minhas malas (que
estavam exageradamente pesadas) e ajeitei minhas coisas no quarto. Tudo era
lindamente decorado e eu me sentia bem.
À noite,
resolvi sair um pouco e ir ao convés. A brisa de verão recebeu meu rosto com um
sopro delicado e um cheiro de canela, que invadiu as minhas narinas e aguçou
meus sentidos.
Sentei
em uma mesa para dois, e prontamente um garçom me ofereceu uma taça de champagne. Aceitei, e tomei um gole
enquanto observava as diversas coisas que aconteciam ao meu redor: crianças
pulavam na piscina, um casal discutia algo muito interessante, uma moça estava
parada à beira do navio olhando para o mar e um garoto bebia incontáveis
xícaras de café.
Então,
eu o vi.
Como
quem caminha sobre a água cristalina, seus pés pareciam flutuar sobre o chão.
Seus olhos não eram da cor azul do céu, pareciam escuros como o oceano à noite.
Eles me encontraram e, por algum motivo, eu não conseguia parar de olhá-los.
Seu cabelo era castanho, meio atrapalhado, e seu jeito era despretensioso.
Interrompendo
meus pensamentos, um senhor perguntou-me se poderia sentar comigo. Eu
estranhei, mas disse que sim.
Eu
só não queria perdê-lo de vista.
O
senhor começou a conversar. Perguntou de onde eu era, o que eu fazia da vida, e
contou a história dele. Mas eu não tirava os olhos dele. Ele segurava uma taça de champagne
e sorria pra mim.
-Você
é uma bela jovem, Claire. Me faz lembrar da minha neta, Rose.
Eu
sorri.
Ele estava com uma
camisa social branca e se encostou no balcão do bar.
-Sabe...
me lembro de quando era novo.
Ele me fuzilava com o
olhar. Despia-me, peça por peça, e observava cada detalhezinho do meu corpo. Desvendava-me.
E eu simplesmente não conseguia prestar atenção em nada do que aquele velhinho
simpático falava.
-O
que você está esperando?
Então
olhei para o senhor. Ele assentiu com a cabeça, e eu levantei. Sim. Eu estava
indo em direção a ele. Fui a passos
rápidos, com o coração descompassado e os pensamentos a mil. Ele veio se
aproximando com um esboço de sorriso e 50 tons de segurança.
-Boa
noite, moça.
-Boa
noite! – eu disse, parecendo mais empolgada do que desejava.
-Aceita?
– ele me ofereceu uma taça. Aceitei e nos sentamos no bar.
Havia
algo na escuridão daquele olhar. Chegava a ser sombrio, mas era fascinante. Hipnotizante.
E todas as outras palavras que minha mente agora está incapaz de encontrar.
Uma
banda tocava uma música animada ao fundo, e fomos dançar em meio às outras
pessoas. Ele definitivamente sabia dançar. Já eu, era um desastre. Ainda bem
que estávamos bêbados. A noite acabou no quarto dele. Estava passando um filme
na TV. Ele beijou meus lábios avidamente enquanto desabotoava a camisa.
Ainda
não sei o nome do filme.
Os
dias se seguiram, e ele já havia se tornado parte dos meus. Em alguns momentos,
ele segurava meu rosto e me olhava fixamente nos olhos, como se pudesse ver a
minha alma. Eu via a dele.
A
única coisa que eu ouvia no último dia era o som do mar se chocando contra as
pedras. A única coisa que eu sentia eram seus cabelos entre meus dedos. E a
única coisa que eu via eram seus olhos. Eram da cor do oceano à noite. Como
breu.
Meu
olhar voltou então para o presente, e meus pensamentos, também. Era o 1º dia do
cruzeiro. E eu simplesmente não conseguia prestar atenção em nada do que aquele
velhinho simpático falava.
-O
que você está esperando?
Observei
ele, mais uma vez depois de tantas naquela
noite. Será que seus olhos eram mesmo da cor do oceano à noite?
Eu
estava muito longe para ver direito.
0 comentários