Já fomos, amor
sexta-feira, maio 01, 2015
Sentada na beirada da cama, sentia a brisa por entre meus cabelos. Era vento de fim de tarde que soprava, de encontro com as ondas do mar. Era maresia que vinha, leve e livre, como era teu carinho por baixo dos lençóis. Observava-te numa tentativa um pouco desengonçada de preparar a janta, de um jeito tão teu. Tomei a liberdade de te abraçar assim, de surpresa, e de repousar o rosto sobre as tuas costas. Fez-se ali o descanso perfeito.
A gente brincava entre os beijos, pois de criança ainda temos um pouco. O caminho entre teus lábios e a tua nuca era apenas a arte do provar, e sorríamos entre nossos carinhos. Era sorriso de paz, calma de verão; e eu fui anestesiada pelos teus perfumes que ficaram em mim.
Vem cá, eu dizia. Segurava-te como se tocasse a coisa mais valiosa do mundo - e realmente era. Não que tenhas deixado de ser, porque o que muda é o tempo que não fica. O que permanece é a lembrança que não vai. O sentimento que não se faz finito. Criamos o nosso pequeno sempre no intuito da permanência, que hoje sabemos não mais existir.
De despedidas, pouco entendo. Faço pouco caso. A gente se despede assim, no silêncio mesmo, daquelas pessoas que queremos adiar o adeus. Vamos embora nos esgueirando, evitando contato visual, evitando o "tchau", porque ele é definitivo. Bom, o silêncio também o é. Talvez tanto quanto, e talvez doa mais do que proferi-lo em voz alta. Dói dizer adeus. Mas dói mais ainda não dizê-lo e perceber que mesmo assim, nos despedimos.
Percebi que ouvir uma música pode fazer doer o peito. Que ver uma foto - ou pensar nas que não foram tiradas - dói tanto quanto bater o dedinho do pé em uma cadeira. Que ver um rosto que de relance se parece com o teu, ainda faz meu coração acelerar. Que ver um filme que a gente viu, dói. Que o que foi, continua doendo, e que essa dor só passa quando me esqueço que ela está ali.
Percebi que ouvir uma música pode fazer doer o peito. Que ver uma foto - ou pensar nas que não foram tiradas - dói tanto quanto bater o dedinho do pé em uma cadeira. Que ver um rosto que de relance se parece com o teu, ainda faz meu coração acelerar. Que ver um filme que a gente viu, dói. Que o que foi, continua doendo, e que essa dor só passa quando me esqueço que ela está ali.
Um dia já fomos desejos de boa noite despejados em murmúrios depois de sermos amor. Já fomos colo nos dias de chuva, ombro amigo nos dias de lágrimas. Já fomos sorrisos e olhares entre beijos. Já fomos tanto, talvez um pouco de tudo, mas creio que o que mais fere é o que não fomos.
Um dia já fomos amor.
Já fomos, amor.
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