Sinto-te perto de mim. Tão perto, que quase posso ouvir as batidas do teu coração. Sinto teu peito de encontro às minhas costas nuas e simplesmente me entrego à simplicidade que habita em nós. Viro-me para ti, e de encontro aos teus olhos fechados, penso com o que podes estar sonhando. Teu sorriso é pleno, e o meu também. Fui sempre tão entregue ao teu querer, mesmo quando desastrada. Mesmo quando não era tua.

Pego-me pensando no ontem, que aconteceu há exatos 647 dias atrás. Olho para o teto, e a ideia de ter colado estrelas no teu quarto foi a melhor invenção que já tive. Elas parecem brilhar para nós, mesmo que não possas ver agora. Sorrio, inebriada apenas por estar aqui, ao teu lado. O passado é tão distante e ainda tão vivo dentro de mim. Éramos loucos, e assim continuamos. Vivemos no limite. E já se tornou nosso costume não estabelecer limites enquanto estamos aqui.

Seiscentos e quarenta e sete dias atrás, esperei pouco daquele sábado. Éramos apenas dois desconhecidos que não procuravam por nada, apenas por um táxi. Felizmente, o mesmo táxi. Nunca fui apaixonada por olhos claros, mas os verdes se fizeram os mais bonitos quando os vi em ti. Éramos os dois tomados por certa urgência, certa mutualidade. Como se eu me reconhecesse em ti e tu em mim. Nunca acreditei em destinos, mas os nossos se cruzaram, e creio que se foi coincidência, era pra ser.

Hoje é o dia de número 648 após pegarmos o mesmo táxi e conhecermos a nossa reciprocidade. É um dia especial, como foram todos os outros 647. E eu não podia deixar de lembrar disso. Volto o meu olhar para o lado, e vejo que estás me olhando com aquele olhar de todas as manhãs, só que o sol ainda não nasceu. Beijo tua testa com ternura, e sei que sabes tudo o que penso sobre hoje. Sobre ontem. Sobre amanhã.

Que permaneças leve. Leve. Leve-me contigo, para onde fores e quando fores. Que continues sendo paixão. Apaixona-te sempre e sempre por mim. Prometo-me apaixonar-me todos os dias por ti. E que sigas sempre sendo (meu) amor.