Um Estranho na Rua
domingo, julho 19, 2015Pra ler ao som de: The Weeknd - The Hills
Dois meses já tinham se passado. Em um dia qualquer, eu caminhava apressada pela rua. Desde que comecei a andar sozinha, lembro que peguei essa mania chata de correr por aí como se sempre tivesse algum lugar para estar. Às vezes eu tinha mesmo, mas naquele dia eu não tinha. Não tinha destino. Minha casa não parecia mais meu lar. Apenas resolvi dar uma volta pela cidade. O tempo parecia apontar chuva, mas eu realmente não ligava.
Eu estava com aquele moletom cinza que tu me destes, e o capuz dele parecia-me um belo esconderijo no momento. Coloquei os fones de ouvido e para minha surpresa, a música pausada era The Hills. Coloquei-a para tocar, coloquei as mãos nos bolsos e segui em frente. Enfrente, meu coração sussurrava.
Eu sequer conseguia olhar para as pessoas. Era como se o chão tivesse se tornado meu único sustento, o único local que eu era capaz de encarar. Olhe pra cima, minha mente dizia. E eu olhei. Olhei mas não quis ver. Aproximava-se de mim quem eu menos queria ver naquele momento, ou talvez a única pessoa com a qual no fundo, eu quisesse esbarrar. Você.
Por menor que fossa a minha vontade de te encarar, eu encarei. Como eu nunca havia feito antes, talvez por pensar que eu sempre poderia fazer isso. Posso jurar que até segurei a respiração. E você encarou de volta. Lembrei-me dos dias em que havíamos passado por aquela mesma calçada de mãos dadas, talvez amaldiçoando a segunda-feira ou indo tomar um café no domingo de manhã. Lembrei do teu sorriso de canto que eu tanto gostava, e que caramba, sempre me deixou enlouquecida. Lembrei de quanta intimidade a gente tinha - num nível que eu achava impossível - e o quanto eu sabia de ti. Bom, talvez eu já não soubesse tanto.
Dois meses. Sessenta dias, mil quatrocentas e quarenta horas. Foi esse o tempo que levou para que tu te tornastes apenas mais um estranho na rua pra mim. Tornei a olhar pra frente, mas olhei pra ti mais uma vez. Força do hábito. Tu olhastes também, e pareceu esboçar um sorriso. Mas aí eu parei de olhar. Eu não podia mais olhar para trás.
Começou a chover, e eu comecei a correr. De ti, talvez. De mim e de todos os problemas que chegaram junto com a tua partida. Era como se eu tivesse te tido a vida inteira, e eu simplesmente não lembrava como era estar aqui antes de você acontecer. Aí você aconteceu de novo, mas foi pra se despedir. Incrivelmente, a gente nunca se despediu de verdade. A gente simplesmente deixou de se perceber. De se entender. Talvez fosse a hora de fazer contigo o que eu fazia com outros estranhos: não notar.
A partir daquele dia, parei de contar os dias. Parece que assim o tempo passou mais rápido, e eu consegui ir em frente. Sei que somos estranhos, e jamais deixaremos de sê-lo. É incrível como uma vez, passamos de desconhecidos completos para pessoas que sabiam mais uma da outra do que de si mesmos. Acabamos voltando para o primeiro patamar. Estranhos. E daqui, querido, não tem mais como sair.
ESTE POST FAZ PARTE DO PROJETO ESCRITA CRIATIVA, UM GRUPO QUE TEM COMO OBJETIVO REUNIR PESSOAS QUE GOSTAM DE ESCREVER. O TEMA DO MÊS ERA "UM ESTRANHO NA RUA".
14 comentários
Simplesmente magnífico... A descrição perfeita dos sentimentos que me correm na alma. Bom trabalho! Continue assim!
ResponderExcluirEspero que goste do meu blog: http://jornalistadeumavida.blogspot.pt/
Ah, muito obrigada moça <3 Me deixou muito feliz com o teu comentário :)
ExcluirQue texto maravilhoso! De todos para o projeto, confesso que o seu foi o que mais gostei, diferente dos outros, você abordou o "estranho na rua" de forma diferente, de uma forma que todos nós já conhecemos ou vamos conhecer um dia. A música também ajudou a sentir cada palavra de forma mais intensa.
ResponderExcluirBom, esse comentário só pra deixar mais claro que eu adoro seu blog e sua escrita. Um beijo
Que amor, Rebeca! Muito muito obrigada <3 Realmente fugi do que os outros escreveram, porque logo que vi o tema já me veio algo do tipo à cabeça... Pra ver como cada um interpreta de uma forma né? E querendo ou não, todo mundo acaba passando por uma situação assim um dia. Ah, e saiba que sempre fico muito feliz com os teus comentários! Beijoss
ExcluirOiee
ResponderExcluirAdorei o texto, acho que mega me identifiquei ;p
Muito lindo, você escreve muito bem *0*
Beijinhos Screepeer
http://screepeer.blogspot.com.br/
Oii Ágatha, ai muito obrigada, fico super feliz que tenha se identificado e gostado <3 Beijoss :D
ExcluirComecei a destacar as partes que eu gostava e selecionei o texto todo, viu? Adorei! Ficou muito bom. Beijo
ResponderExcluirtresazero.blogspot.com.br
Que amooor hahaha <3 Muito obrigada, de verdade! Beijoss
ExcluirAcho que praticamente todo mundo já passou por algo assim ou vai passar. Mas o triste de tudo é ver alguém tão querido passar a ser apenas mais um estranho.
ResponderExcluirBlog Profano Feminino
Com certeza... infelizmente todo mundo acaba passando por situações assim. Muitas pessoas são passageiras na nossa vida é dói de verdade ver isso :/
ExcluirAdorei Nathalia, gosto do modo como você narra e descreve os sentimentos, amo textos assim! <3 beijooos
ResponderExcluirObrigadaa, de verdade! Mas acho que tu confundiu meu nome hahaha sou a Mari ;) Beijoss <3
ExcluirQue lindo Mari! Adorei, de verdade!
ResponderExcluirBjos
Ai que amor, muito obrigada <3
ExcluirBeijos.