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Ele era raso demais

domingo, dezembro 13, 2015


Esses dias, me peguei pensando em você enquanto tomava um sorvete de chocolate sentada na calçada. Estava quente e eram as minhas últimas férias antes de começar a ter uma vida adulta - que droga, a propósito. Lembrei-me de que uma vez eu havia imaginado a gente morando em um apartamento no centro de Porto Alegre, naqueles prédios antigos mesmo, no meio do caos. Mas nós éramos o caos.

Esse é só mais um daqueles textos que eu tinha deixado jogado nos meus rascunhos, como se houvesse perdido a sua essência, sabe? Isso aconteceu com a gente também. A gente se perdeu. Eu estava pronta para me jogar no teu mar e mergulhar sem procurar o fundo, mas acontece que de mar você não tinha nada. Era raso o suficiente apenas para molhar os meus tornozelos. Você me pediu, logo no início, que gostaria que eu molhasse os cabelos também. Infelizmente você não esperava que eu fosse levar isso a sério.

Sempre fui do tipo que tomava cuidado para não se apaixonar. O amor pra mim era uma droga - e continua sendo -, na qual eu não queria me viciar. Nunca quis ser dependente de alguém, tampouco sentir-me vulnerável ao ponto de precisar de outra dose. Ironicamente, terminei em uma tentativa falha de me deixar ser abraçada por um amor que era o teu.

Não dá nem pra acreditar que a gente já foi clichê. Não dá pra acreditar que eu tinha o coração acelerado com uma mensagem nova. Sorrisos transbordando com os teus abraços que poderiam me suprir por um dia inteiro. Não dá pra acreditar que eu passei da menina que evita a todo custo um cara no seu pé pra aquela menininha vulnerável que espera ansiosamente pelo final de semana só pra te ver. Eu nem me reconhecia mais, menino.

Eu percebi que tudo estava mudando quando eu passei a ter medo de que ao acordar, alguém teria tomado o meu lugar. Quando as tuas mensagens passaram a ter um tom frio e os desejos de boa noite haviam se tornado apenas mera obrigação. Quando eu já não sentia mais faíscas entre nós. Nosso beijo não ardia, teu abraço não me aquecia, tuas palavras não me atingiam. Nem as boas nem as ruins. Quando a gente se tornou comodidade. Quando eu percebi que você nunca tinha me deixado mergulhar, nem tentado mergulhar em mim. Estávamos ambos na superfície. E é tão gelado aqui em cima.

Ontem eu li que todo término começa com um fingimento, e é verdade. A gente finge que não vê, que se importa, que as coisas vão se ajeitar. Nem sempre se ajeitam, e é preciso aceitar isso, enxergar. Você parou de se importar, de tentar mudar. Eu parei de querer que as coisas mudassem. Aprendi a lidar com o frio sem você pra me aquecer. Aprendi que existem pessoas rasas, e que o tempo pode mudar isso - eu mudei -. Mas tudo começa com uma vontade de mudança, coisa que você não tinha.

Eu tinha medo do futuro, sabe? De nós dois tomarmos caminhos diferentes, ou até de tomarmos o mesmo - porém com as mãos bem afastadas uma da outra -. Agora o futuro se tornou o presente, e está nas minhas mãos. Estou com as chaves do meu apartamento no centro de Porto Alegre, encarando a porta com as minhas malas e uma expectativa enorme quanto à faculdade. Como eu disse, o futuro está nas minhas mãos. Cabe a mim saber o que fazer com ele. Sem você.

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12 comentários

  1. O amor é uma droga que sou completamente apaixonada, principalmente iludida ha ah <3
    Como sempre arrasou no texto <3 Beijos!
    www.atrasdpenteadeira.com

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    1. E é um vício bom né? Hahaha. Muito obrigada, que bom que tu gostou =) Beijoss <3

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  2. Esse texto me lembrou aquela frase:
    "Traumatismo craniano.
    Fruto de mergulhos profundos
    em pessoas rasas" Lindo, né? Que nem o seu texto.

    irianneveloso.blogspot.com

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    1. Nossa, que linda essa frase! Nunca tinha ouvido falar, e acho que se encaixa perfeitamente aqui. Ai e muito obrigada pelo elogio :) Beijos <3

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  3. Queria pegar um trecho aqui e dizer que me identifiquei, mas poxa Mari, acho que você escreveu pra mim :/
    Infelizmente quando tentamos ser fundos, encontramos alguém raso, não é? Assim como quando somos rasos, encontramos alguém fundo. É complicado.
    Enfim, teu texto tá incrível ♥

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    1. Awn Kelly, fico muito feliz em saber que tu se identificou com ele. Infelizmente essa é uma coisa pela qual eu já passei muitas vezes. E é bem como tu disse, é bem difícil encontrar alguém que tenha a mesma profundidade que a nossa.
      Muito obrigada <3

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  4. Que texto lindo, você escreve muito bem.
    Parabéns pelo blog.
    http://www.sonhosliricos.com.br/

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    1. Ai muito obrigada Tainá ♥♥ Fico muito feliz lendo isso, que bom que gostou daqui!

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  5. Ca
    ra
    lho, Mariana.
    Que puta soco na minha cara aqui, viu???? To falando para você, tá sempre me espionando. Porque te juro que serviu como uma luva, especialmente hoje. Coloquei a mão e fez puf, tamanho certo.
    "Esse é só mais um daqueles textos que eu tinha deixado jogado nos meus rascunhos, como se houvesse perdido a sua essência, sabe? Isso aconteceu com a gente também. A gente se perdeu."
    Olha só. Meu vou até salvar aqui nos favoritos. Arrepiada? Confere. Caraca. Sério to até agora assim :O que?
    "Não dá nem pra acreditar que a gente já foi clichê." esse parágrafo...
    Argh, vou tatuar na testa.
    Maravilhoso como sempre, meu favorito, eu acho s2 rs Muito obrigada por isso, por essas palavras maravilhosas!! Mudou minha noite :)
    Mil beijoooooooos e não pare de escrever u.u

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    1. Aaai, que bom ler um comentário assim ♥ Chega a ser engraçado como às vezes os textos se encaixam perfeitamente nos nossos momentos, e eu fico feliz que tenha se identificado. Sério, que linda <3 Eu que agradeço pelo comentário e por poder te ajudar um pouquinho com as minhas palavras :)
      Beijoss

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