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Eu não vou te deixar uma carta

quarta-feira, junho 21, 2017

 Foto: @luizlcas

Eu não vou te deixar uma carta, querido. Eu escrevi tantas e fiz tantos rascunhos, que acabei por me perder no meio de toda essa bagunça. Eu me perdi nas palavras que tu me dizias ao pé do ouvido antes de dormirmos, e infelizmente elas passaram a fazer parte do meu livro de recordações.

Ontem à noite, eu estava organizando tudo o que deixei pra trás. Talvez não tenha deixado ainda, mas hoje é a última carta que te escrevo. Li cada linha que meu coração ditou para ti nestes 5 meses de angústia, e desamassei algumas folhas que em uma noite ou outra sofreram pela minha raiva e meu pavor de não tê-lo aqui. Tu mesmo me preparaste para ver o mundo, mas das certezas que tenho, a maior delas é a de que eu não estava preparada para vê-lo sem ti.

Pra falar bem a verdade, acho que tu nem notaste que eu fui embora. Fui de corpo, porque o resto ficou. Juntei minhas coisas -que já eram tão tuas- e fui buscar mais de ti em outra pessoa, afinal, tu já não eras mais o mesmo. Talvez agora eu enxergue aquilo que nunca me permiti enxergar, por puro medo de confrontar a realidade que eu não queria pra mim. Agora eu entendo que tu me deixaste ali, quando sabias que eram os meus piores dias, talvez por tua culpa. Mas o pior é que eu queria desabafar com alguém, e ironicamente, este alguém é o causador da minha mágoa. Esse alguém é você.

Eu não vou te deixar uma carta. Prometi à mim mesma que em 6 minutos todas elas estarão bem longe de mim, assim como tu estás. Elas me fizeram companhia e foram uma espécie de refúgio, assim como são os textos que tanto escrevo sobre nós. Sobre mim. Confesso que sinto um tanto de ciúmes de quem eu era contigo, mas posso assegurar que hoje sou melhor graças ao que fomos.

Te deixo então, meus agradecimentos pelos aprendizados que tu me trouxeste, pela felicidade que me ensinaste a ter e pelo amor que me provias. Me despeço aqui, com o coração em mãos, envolto em curativos e com um alto teor de imprudência no sangue. Parece que estou prestes a pular do 18º andar do meu prédio, e não sei se haverá alguém lá embaixo, tampouco tenho paraquedas. Apenas sei que chegou a hora de pular e deixar minha caixinha de recordações aqui em cima, onde eu não possa ver. Te deixo aí, e levo as lembranças comigo.

Queria me despedir de ti através de uma carta. Infelizmente, não posso te mandar uma.

Perdi o teu endereço.

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2 comentários

  1. amei o texto, me vi nele, você escreve muito bem <3
    https://dose-of-poetry.blogspot.com.br/

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