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Cobertor

quarta-feira, julho 23, 2014

       

O sol nascia, e mais uma vez eu estava contigo observando a água enquanto a luz tomava conta do infinito que é o oceano. Olhei nos teus profundos olhos castanhos, e nós sorrimos. Aqueles dias das férias de verão que estávamos passando na praia estavam sendo simplesmente fantásticos. Eu, que nunca sonharia em te conhecer, te tive.

Às vezes eu desejo só uma coisa: nunca ter te conhecido. Assim eu nunca saberia que existe alguém como você por aí. Li isso em algum lugar, e serviu de um modo incrível pra mim e pra essa situação. Um ano já passou, e eu não esqueci como tu fica lindo com o cabelo molhado caindo no rosto. Ou como tuas poucas e minúsculas sardas despontam do teu nariz, coisa que só quem viu de perto os detalhes da tua face pode ter a felicidade de descrever.

Estava eu, jogada na cama, lendo um livro desses romances que fazem a gente se iludir, quando caí no sono. Meu celular vibrou. Levei um susto e meu coração disparou. Não sei por quê. Mas se não tivesse disparado, provavelmente teria saltado pra fora do meu peito depois de ler a mensagem. Era você. Pedindo pra me ver, pedindo tudo aquilo de volta.

Eu joguei um casaco por cima da camiseta do Arctic Monkeys que estava usando, e fui até a porta do prédio. Você estava com aquela camisa xadrez que eu odiava. Mas ah, eu amava o cheiro dela. Me joguei nos teus braços e senti a textura dos teus lábios que há tanto eu já queria ter beijado. Você colocou uma mecha do meu cabelo pra trás e me observou enquanto eu sorria, embriagada pelo teu perfume. Não estava mais perdida, e sim, achada.

Fomos até o parque da cidade e nos sentamos em um banco próximo ao lago. As pessoas passavam exclamando "que belo casal!", ou nos dando sorrisos de aprovação. Mas o teu sorriso de aprovação era o mais lindo entre todos. Não parecia aquele dia clichê -ensolarado, com um clima de primavera ou com chuva, no qual nos beijaríamos como naqueles filmes - mas era, pra mim, um dia clichê. Nas águas rasas, observávamos nosso reflexo. Um só. Passamos a tarde ali, e você me levou pra casa. Cansei de imaginar essa cena todos os dias, enquanto tentava dormir.

Ao me dar um abraço de boa noite, que eu não teria que esperar ansiosamente durante algumas horas pra poder sentir de novo, afinal dormiríamos no meu apartamento, você sussurrou: "Eu esperei tanto por isso". Eu fechei os olhos, e logo os abri novamente. Eu também esperei. E pelo jeito, teria que esperar. Como sempre, havia sido só mais um devaneio meu. Você não estava mais ali.

Me virei de lado, e olhei para a cama vazia. O que me restava para fazer companhia era apenas o meu cobertor.

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