Quando eu deixei você partir
segunda-feira, outubro 03, 2016Foto: @brandonwoelfel
Eu estava tomando o terceiro café daquela tarde, pois sabia que ainda teria que passar umas boas horas no computador. Trabalhar em casa era ótimo e tinha lá suas vantagens, mas não era tão agradável quando a minha maior vontade era deitar embaixo das cobertas e eu sabia que não podia. Afinal, o trabalho me chamava e eu precisava continuar. Também não podia reclamar de tédio em momento algum.
Quando eu estava prestes a sentar na minha cadeira, o interfone tocou. Eram 3 e meia da tarde de uma quinta-feira e eu não esperava ninguém, então achei estranho. Era o porteiro do prédio, me avisando que um homem de cabelos castanho-claros e moletom cinza queria falar comigo. Na hora, eu gelei. Não podia ser você. Não podia. No fundo, eu sabia - você só usava moletons cinzas. Então, apenas disse que poderia mandar subir.
5 anos haviam se passado desde a última vez. O último olhar, o último beijo. O tão temido "até algum dia". Esse algum dia havia chegado, e eu não sabia exatamente o porquê. Nem se eu estava pronta para vivê-lo. Foram exatos 782 dias juntos, e eu havia decidido esquecê-los no momento em que saí por aquela porta. Sem olhar pra trás.
Agora, ali estava eu, indo atender a porta. E eu sabia, era você. Quando te olhei, foi como se o tempo houvesse parado. Como se aqueles 5 anos não tivessem existido, e você não tivesse mudado. Apenas estava com mais barba do que costumava ter e parecia até mais bonito. Pensei o quão esquisito era o fato de termos imaginado uma vida juntos - passeios pela beira da praia, viagens ao redor do mundo quando tivéssemos dinheiro - e agora, estarmos ali. Distantes.
Você começou a falar, falar muito. E eu também. Foi tudo tão normal até o momento em que você largou a notícia que eu não queria - nem esperava - ouvir. Você iria casar. Em alguns dias estaria saindo do país, pra ser mais precisa. Eu acho que eu nunca senti uma dor tão forte no peito como senti naquele momento. Foi como se a ferida tivesse sido aberta novamente. Todas as nossas conversas, nossos planos, realmente não iriam se concretizar. Você estava indo realizá-los com outra pessoa.
Naquele momento, eu só queria sumir. Simplesmente, sumir. Pensei onde eu tinha errado. Eu sabia que esse dia ia chegar, mas eu não sabia quando, nem que iria doer tanto. Acho que você me marcou tanto que é impossível te esquecer algum dia. Se nós ainda nos encaixássemos, se soubéssemos lidar um com o outro, eu ainda iria te querer aqui. E você iria também, eu sei disso. Mas eu sabia que depois daqueles 782 dias, não conseguíamos mais.
Com os olhos marejados em lágrimas, te olhei pela última vez. Despontamos dois sorrisos tímidos, com medo do que estava por vir. Nós dois fomos turbulência um dia, e continuaríamos sendo, em nossas memórias. Eu senti tristeza, por ter perdido o provável amor da minha vida. Senti raiva, por ter te amado tanto. Agora só me restava uma coisa: te deixar ir.
4 comentários
Pega a parte do casar e junta com "vou ser pai" e saberás como me senti. Foi quase que igual a tudo que está nesse texto, somente acrescentando a parte de ser pai. Meu coração ainda tá doendo. Acho que sempre irá doer...
ResponderExcluirBeijos,
Blog Gaby Dahmer ♥ Fanpage ♥ Instagram ♥ Twitter
Nossa Gaby, sério? Que complicado :( Tenho certeza que deve estar sendo muito difícil, mas TUDO, tudo mesmo, passa. E tudo tem um motivo para acontecer, viu? Coisas melhores virão pra ti, pode ficar certa disso.
ExcluirBeijos.
Você nos mergulha em tantas histórias, vidas, amores, desamores que eu nem sei dizer.
ResponderExcluirAmo amo amo como esse teu talento, de nos fazer sentir. De me fazer estar aí no lugar dela, de sentir a dor dela.
Inclusive, já senti.
Me identifiquei.
Sempre me identifico.
Crônica fantástica.
Mil beijos
Muito obrigada Beca! Não sabe o quão feliz fico ao ler isso e saber que consigo passar exatamente o que gostaria. Beijos =)
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